quarta-feira, dezembro 28, 2005

Finito

Minha beleza
acaba.
Minha juventude acaba.
Meu olhar frente ao espelho
ilude-se por um momento
e auto seduzo-me,
com meu próprio olhar.
Engano-me e digo
nunca irei acabar.
Mas como saber?
O que sabemos?
Tudo transforma-se,
nossas partículas mortas
tornar-se-ão vida um dia,
nossa vida tornar-se-á
morte um dia.
Os cabelos perdem o viço,
a pele perde o brilho
o rosto perde a feição
e o que resta?
Senão nosso próprio pensar?
O que resta?
Um corpo velho,
cansado e deformado
pelo tempo.
Tempo sagrado que passa .
Todo tempo passa,
assim como nós,
assim como tudo que passa.
O espelho não nega a diferença,
tudo amadurece
e corre depressa.
Não somos espaços
a sermos passados.
Somos tempo e passaremos.
Nos transformaremos?
Acabaremos com os anos?
Quem sabe?
Tenhamos pressa.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Merda

Há muita merda no mundo.
E a bosta custa caro.
Muitos cus cagando agora.
Haja saneamento, descargas!
E toda essa merda
infecta.
Mundo de enfezados,
cagados, sugismundos.
Todos cagam.
Onde vamos parar??

quarta-feira, outubro 26, 2005

Meu mergulho

Mergulho em mim
Mergulho em mim.
Mergulho! Eu mergulho.
Meu mergulho. Mergulho.
Me afogo em mim.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Deixa-me

Não gosto que me desarrumem os dias,
os pensamentos.
Queres roubar-me pra ti
e depois,
eu sei, não há depois para mim,
apenas o momento agradável a ti.
Não gosto de dizer o que sinto,
usarás minhas palavras
e mentirás. E mentirei
e mentiremos.
Deixa-me.
Não te incomodarei mais,
nem perturbarás meus pensamentos.
Sei que queres grandes sensações
com poucos sentimentos.
E já sinto medo de ser tomada,
invadida, iludida
tomar-te para mim, seduzir-te,
ser seduzida.
Não gosto que tentem entender-me,
não gosto de ser usada
e por isso,
uso-te
por inteiro.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Saiba

Meu bem, saiba,
nunca acreditei.
Meu bem, saiba,
Sempre soube.
Não ousei iludir-me,
não senti de verdade,
apenas vivi.
Saiba, não fizeste nada
que não soubesse.
E as mentiras todas,
Saiba,
ajudei-te a criar

sábado, agosto 27, 2005

Corpos

Corpo. Calor. Corpos.
Partes e corpos nus.
Sensação. Sentimentos?
Sentir com a pele o que o coração não sente.
Quantos corpos?
Quantas sensações
sem grande peso.
Já não se sente como antigamente.
Já não é estranho nem imoral,
já não é importante,
é excitante. Somente.
Corpo. Frio. Corpos quentes.
corações frios.
Ou quentes?
Engana-se o corpo,
pois o amor não mente.

domingo, agosto 07, 2005

Mudança

Silêncio absoluto
meu mundo mudo muda tudo,
e não cala,
não fala, não falta nada.
No silêncio sombrio, sozinho
mudo as flores de lugar,
as mudas, mudas...
Tudo mudado agora.
Mundo, mudo?
Vale a mudança?
Chacoalhar as tranças e mudar
emudecidos?

terça-feira, julho 12, 2005

O amor se compra

Procuro, procuro na casa um lugar favorável ao meu espírito, na rua protejo-me dos combates, os seres parecem querer dizer algo, procuro escutar com atenção. Dor. Porque sofrem tanto esses andantes? A fé solúvel dissolveu-se num gole amargo de café, num gosto impuro de falsidade. O chão tão firme amoleceu sob meus pés num sopro divino que mostrou-me um espírito cego. O caos domina, chacinas, genocídios, homicídios, morte grupal, suicídio. Procuro meu lugar no mundo. Mundo injusto - mundo justo? Todos pagam por algo. Somos tão pequenos, apavorantemente minúsculos - pele, ossos e músculos, pequenos e terrenos, sexuais e banais. Essa superficialidade me impressiona, e tento não ser diferente. Apenas o superficial já basta, assim, não sofremos... acho que preciso comprar umas roupas novas, uns sapatos, um carro, o amor também se compra. Me vende um pouco? Eu compro.

segunda-feira, março 28, 2005

T

Desesperadamente,
inevitavelmente
a mentira se desfaz
em pedaços de vidro.
Ponteaguda mentira.
Estilhaços fatais.

haicai

uma borboleta
que pairou sobre a flor,
nasceu agora.

quinta-feira, março 03, 2005

Foi Mau

Encantamento banal,
obsessão fácil de curar.
Teus olhos, meu borrão.
Tua boca, turbilhão.
Desenho perfeito:
tua boca.
Pequena sensação, fuga insensata
em tua direção, que foge.
Em cada esquina se perde
em mil obsessores.
E me perco, me curo,
de minha vontade.
Sei que diferenças são ilusões.
E me acalmo,
tua boca é minha também,
teu olhar não alcança minha direção.
Com você aqui ou não,
continuo a mesma:
fácil de esquecer, difícil de encontrar.
A mesma,
de simples compreensão.
Paixão que acende
e que apaga tua força,
a minha não.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

for someone

Escrevo-te, sem pretensões,
sem invadir-te,
somente para dizer-te
que outro ano se foi.
Lábios quentes, boca minha,
tua boca calou meu parabéns
de tudo que foi.
Há tudo o que virá e por isso
parabenizo-te.
Por chegar até aqui.
Como quem nunca viveu
e tudo sentiu.
Em meio ao meu desejo, calo-me.
Como quem nunca sentiu
e tudo viveu.
E apesar de não conhecer-te
digo-lhe:
Abre os olhos e tire as máscaras,
quebre os muros,
invade a si próprio
com teus olhos de criança, que busca
e não se cansa.
Com teu olhar de homem
que a tudo alcança.
Tire a máscara e fique nu.
Prepara-te pro que vem,
como quem tudo sabe
sem precisar sofrer.
Escuta-me, sou só mais uma voz
que escreve, sem precisar dizer.
E tudo já foi dito,
e não nego:
meu desejo vem da alma
e consigo tudo que almejo.
É hora de ser feliz,
e seja.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Apego

Apego, apego
à parte.
Amigo,
à tarde você vem
esqueceu o que teria
escolheu o que já tinha.
Apego, apelo.
Teu corpo inteiro
não é mais meu.
Apego, apego
apenas, apesar de tudo
espero aperreada
como flor sem pétalas.
Depois do vento
por uma pérola.
Aperfeiçoada,
sou hoje sequer
o apelido da despedida,
que parte apegada.
Aperto.
Dói no peito o apego
como apogeu.
E parte,
inda que não seja vontade.
E se vai,
a parte
que com esmero procurei.
E repartida, a parte que ficou
parte. Em busca de um ponto de partida.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Laço Rompido

Fitas espalhadas em todo chão,
vermelhas e pretas
brancas e verde-amareladas.
De cetim, todas amassadas
espelham da sombra o suor.
Fitas esparramadas
por todo chão. Coloridas.
Colorem o vão, pretas e vermelhas,
azuis e azul-esverdeadas.
Fitas de cetim bordadas.
Molhadas.
Amassadas.
Fitas sem laço

terça-feira, janeiro 18, 2005

morte

Morte, morte, morte iminente
certa.
Sentida,chegada.
Partida.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Ofício

Nos dias de hoje o que não é ofício
é artifício
para conseguir mais.
Inexoravelmente egoísta,
musicalmente banal
quase tudo artificial.
Se não é partido
é time de futebol.
Há sempre uma razão sangrenta
por mais capital.
Não se mede esforços,
nem conta-se os mortos
vítimas deste mundo desigual.
Como mortos-vivos
os andantes caminham
entre armas, ebós
e espinhos
em busca de paz.

O Sol

Silêncio,
calou-se o mundo, aqui dentro.
Não existem mais palavras.
A via láctea foi trancada em uma garrafa.
Todos os rios reuniram-se em uma lágrima.
Todo o ar foi-se em um suspiro.
Calaram-se todos os gritos, as buzinas,
as fofocas e as mentiras.
Tudo foi engolido pelo sol.
O outro sol.
A garrafa caiu no horizonte
levando todos os nomes, sobrenomes,
segredos e ilusões...
O vazio agora reina
em corações gelados, partidos e quebrados.
Num mundo sem chão.